sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Espírito de natal

O baixinho-grande, cheio de segundas intenções, começou a conversa:

- Você gosta de natal, mãe?
- Adoro, filho. É a minha festa preferida.
- Por que?
- Porque lembra a minha infância. E eu tive uma infância muito feliz. Nem tanto pelos presentes, porque o vovô não tinha dinheiro para ficar comprando presente para a gente...

Percebi o vacilo e encerrei a frase, torcendo para que ele não percebesse a deixa que tinha acabado de dar. Mas ele, perspicaz, matou a charada:

- Eu sabia.
- Sabia o que, filho?
- Que o papai noel não existe.

Confirmei a sua descoberta com um sorriso contido. Há tempos carregava a consciência pesada por não ter contado a verdade quando ele perguntou. Vitorioso, ele deu asas às suas elucubrações:

- Sempre achei estranho um velhinho que não morre nunca, voa num trenó com várias renas - bicho que eu nunca vi -, coloca todos os presentes do mundo num saco vermelho e visita as casas de todas as crianças na mesma noite.
- Não é muito lógico mesmo. Mas o papai noel existe na fantasia das pessoas, principalmente das crianças. E não podemos tirar isso delas.

Ele balançou a cabeça afirmativamente e refletiu por alguns instantes. Depois de provar o gosto insosso da realidade, admitiu:

- Sabe, mãe? Eu ainda acredito um pouco. Nesse ano, vou ficar acordado para ver por onde ele entra. Não pode ser pela janela, porque tem grade. Deve ser pela porta mesmo. Aí ele vai dar de cara comigo quando entrar, você vai ver.

Isso mesmo, querido.
Alimente a sua fantasia, ela deixa a vida mais doce.


Nenhum comentário:

Postar um comentário